A nova era

‘Ficarei com você para sempre’, me disseram um dia. E eu acreditei. Você ri de mim, mas um dia te dirão isso e tu também acreditarás. Porque o mal te cega e enfeitiça. O vazio se aloja fazendo de tudo para sugar-te a essência. É claro que quando você percebe já é tarde demais; seus sonhos já foram destruídos, você fora derrotado em sua infinita luta de fazer tudo mudar, as pessoas não ligam mais pra você - na verdade as pessoas já não ligam para outro ser humano senão a si mesmo – e você se cansa de tudo que já foi feito, dito, sofrido.


É hora de buscar novos horizontes, outros sorrisos, outra paz de espírito, outros prazeres, deixar o medo de enfrentar o novo te possuir e guiar tuas ações; muitas vezes errôneas, muitas vezes perigosas, muitas vezes muito prazerosas (só por serem proibidas). Pronto. Cara lavada. Alma destruída, em pedaços, no chão; mas de cara lavada. Você começa a viver uma rotina diferente, e se esquece da antiga. Esquece também daquelas vozes, daqueles sorrisos, risadas, abraços, momentos, rostos... A mente humana nada mais é que uma superfície fraca e medrosa; suas lembranças mais vivas vão tornando-se lenta e dolorosamente cinzas... Sem cor, sem alegria. Para que pelo transcorrer inevitável do tempo, a vida passada seja mesmo deixada para trás, na terra dos esquecidos.

Bom que seja assim. O tempo cura, mas não dá amnésia. Esquecem-se momentos, casos, histórias, imagens, sons, cheiros, sabores... Mas o que te fizeram sentir, não dá. É uma tatuagem cravada, não em teu corpo, mas na alma. Na mais densa e obscura profundidade.

E você vai vivendo a vida. Aquela criada para amenizar dores, aumen tar a culpa dos erros passados, numa hipócrita sentença de ‘começar de novo’ quando ainda se faz esforço para se atrelar ao passado. O ser humano é masoquista. É cruel por natureza. Pronto. Tudo o que era teu, jeito, medos, anseios, maneiras; humor, se fora. E a volta ao passado, ao lugar, já não te é mais familiar: aquela pessoa que ali viveu, não mais vive em lugar algum senão na memória fraca das pessoas, já está morta. Morta, pois renasceu.

E a volta de pessoas, momentos, lembranças é como um recado a ser passado; você entende, grava, faz esforço para lembrar, até repassa para si, porém não absorve, não reconhece; já não foi feito pra você. Já não faz mais sentido.



Amores, dores. Amigos, infinitos ?